Montagem do Blog

O blog está em construção ainda. Serão postados, gradativamente a biografia de todos os membros que ocupam as cadeiras. Para ver o Estatuto, selecione abaixo.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Cadeira n. 2 – Patrono: Luiz Otávio (Gilson de Castro) (1916 - 1977)


Gilson de Castro nasceu a 18 de julho de 1916, no Rio de Janeiro, filho de Octávio de Castro e Antonietta Motta de Castro. Ficou órfão de mãe aos dois anos. Criado pela madrasta, foi enviado como interno ao Colégio Resende. Passou a adolescência em Petrópolis. Luiz Otávio foi o pseudônimo que ele adotou para assinar suas trovas, poesias e outras manifestações de seu talento literário.
Formado pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, em 1936. Sua clientela não ficava restrita apenas ao município Rio de Janeiro, se espalhava por São Paulo, Santos, Belo Horizonte e outras cidades mais próximas da sede do seu consultório.

Mais tarde formou-se também em Hipnose, utilizando esta técnica em sua profissão. 

Começou a enviar seus versos para os jornais e revistas lá por 1938, ainda timidamente, oculto sob pseudônimo. Não pretendia misturar a vida literária com a profissional.

As principais revistas e jornais da época começaram a divulgar poesias e principalmente trovas de Luiz Otávio, que podiam ser encontradas no "Correio da Manhã", "Vida Doméstica", "Fon-Fon", "O Malho", "Jornal das Moças", revistas que, como "O Cruzeiro", eram as mais lidas dos anos 1939, 40 e 41, etc. A revista "Alterosa" de Belo Horizonte, também o divulgou.

Pouco a pouco, a Trova tomou conta do coração do poeta, assumindo Literalmente papel de Liderança na sua vida. 

Casou-se em 1942, teve dois filhos: Cláudio e Márcio.

Para a ascensão da Trova na vida de Luiz Otávio, muito contribuiu sua amizade com Adelmar Tavares. Quem os aproximou foi o consagrado poeta A. J Pereira da Silva. Recuperava-se Luiz Otávio na Fazenda Manga Larga em Pati de Alferes, quando teve oportunidade de conhecer esse renomado poeta, da Academia Brasileira de Letras, com quem iniciou amizade edificante, solidificada pela Poesia; amizade que se estendeu até os derradeiros dias de A. J. Pereira da Silva que, naquele tempo, já passava dos sessenta, enquanto Luiz Otávio não galgara ainda o vigésimo segundo degrau de sua sofrida existência. Isto não perturbou as horas deliciosas de conversa amena e espiritualizada, em que a fina sensibilidade de ambos fazia desaparecer a diferença de idade, provando que um coração capaz de vibrar "de amor" e pulsar em ritmo de poesia, simplesmente não tem idade.

A viúva do acadêmico Antônio Joaquim Pereira da Silva, doaria posteriormente, a preciosa Biblioteca do poeta ao seu particular amigo, Luiz Otávio, que, por sua vez, ao transferir residência para Santos, em 1973, doou parte desse valioso acervo, juntamente com livros de sua própria estante - num total de mil exemplares devidamente catalogados - à Academia Santista de Letras, que só então teve formada sua Biblioteca.

Na época, a A.S.L. era presidida pelo Dr. Raul Ribeiro Florido que se responsabilizou pelo transporte Rio Santos. Com esta doação, Luiz Otávio não pretendia nada para si, como deixou bem claro em carta, (era de conhecimento geral sua quase aversão às Academias, em virtude do próprio temperamento). Mas pediu, por uma questão de justiça, que numa das estantes fosse colocada uma placa que levasse o nome de A. J Pereira da Silva. Luiz Otávio recebeu um carinhoso oficio de agradecimento do então Presidente da Academia. 

O Presidente, Dr. Nilo Entholzer. Ferreira, trovador de méritos, comprometeu-se a cumprir essa cláusula. Como já dito, A. J. Pereira da Silva foi quem levou Luiz Otávio até Adelmar Tavares, também da Academia Brasileira de Letras, em visita à sua casa, em Copacabana. Corria o ano de 1939. Adelmar Tavares sentia a idade pesar-lhe nos ombros, e, mais uma vez, um jovem poeta e um velho e consagrado mestre da Poesia uniam-se por laços afetivos dos mais duradouros. A principal responsável por essa união foi a Trova, que Adelmar Tavares cultivava e da qual Dr. Gilson de Castro já era profundo apaixonado, trazendo-a para o público sob o Pseudônimo, agora definitivamente adotado. Luiz Otávio. Luiz, por ser bonito, melodioso, e combinar com Octávio, o nome do Pai, a quem, homenageava. 

Para atualizar o nome, o c foi cortado em acordo às regras ortográficas vigentes. A Poesia de Luiz Otávio ganhava espaço. Jornais de outros estados o acolhiam em suas páginas, tinha ao seu dispor colunas literárias de crítica poética, onde comentava livros, publicava trovas, poesias e arrebanhava fãs e admiradores de todas as idades. Daí ai constituir-se Líder de um Movimento Trovadoresco, era questão de um passo, muito embora isto viesse acontecer sem procura.

A partir de 1950, interessou-se pela Quadra Popular Portuguesa (ou trova de rima simples). Estudando suas formas e suas origens, passou a divulga-la através de publicações diversas. Em razão disso, ingressou no GBT (Grêmio Brasileiro de Trovadores), sediado em Salvador/BA. Mais tarde fundou e dirigiu a seção Guanabarina daquela entidade que congregava, além de trovadores, violeiros, cantadores, repentistas do Nordeste a autores de Cordel. Tempos depois, por questões de divergência quanto a forma poética das “quadrinhas” que compunham aqueles cantadores e trovadores de Cordel, Luiz Otávio, sem criar ressentimentos ou animosidades, deixou o GBT e partiu para a fundação da União Brasileira dos Trovadores, da qual foi Presidente Nacional até cair gravemente enfermo, quando foi substituído pelo trovador Carlos
Guimarães, do Rio de Janeiro.

A idéia, no entanto, da criação de uma nova entidade trovadoresca, onde a trova ganhasse a sua maioridade literária, em âmbito nacional, vinha desde 1959, ou antes disso, amadurecendo no espírito de Luiz Otávio. Mas, apenas em 1966 pode fundar a Seção do então Estado da Guanabara e esperou até 8 de janeiro de 1967, data em que as seções de outros estados se organizaram em definitivo, para considerar oficialmente fundada a União Brasileira dos Trovadores.

De parceria com outros trovadores notáveis, elaborou inúmeros sistemas, métodos e regulamentos que ainda hoje servem de estrutura ao movimento trovadoresco brasileiro. Ao lado de outro grande trovador e poeta, J. G. de Araujo Jorge, instituiu os Jogos Florais para Trovas, começando por Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, que ficou conhecida como a “Capital da Trova no Brasil”, isto em 1959, muito antes da fundação da U.B.T.

No ano de 1960, em Congresso de Trovadores realizados em São Paulo, foi eleita a Família Real da Trova, ficando assim constituída : Rainha da Trova : LILINHA FERNANDES (Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva); Rei da Trova: ADELMAR TAVARES e Príncipe dos Trovadores: LUIZ OTÁVIO (Gilson de Castro). 

Mesmo já sendo falecidos, continuam com o título, pois outros trovadores só poderão adquirir o título se houver uma Eleição Nacional ou um Congresso realizado com esta finalidade, em que participe um número muito grande de trovadores, com a participação de representantes de todo o país, uma vez que não pode ser reconhecido qualquer título literário supostamente alcançado com a votação de sócios de uma academia, associação, centro literário etc, com exceção de sua Diretoria.

Recebeu o título máximo da trova, Magnífico Trovador, nos Décimos Quintos Jogos Florais, por ser vencedor três anos consecutivos com as trovas.

Na década de 70 se uniu a Carolina Ramos, também trovadora premiadíssima. Além de grande Trovador, campeão de centenas de Concursos de Trovas e Jogos Florais, realizados em várias cidades do país, LUIZ OTÁVIO era um exímio compositor, sendo dele a autoria do Hino dos Trovadores, Hino dos Jogos Florais, das Musas dos Jogos Florais e de várias outras obras musicais.

Foi homenageado pela municipalidade de Magé, através da Lei nº 211, de 06 de julho de 1977, de autoria de Francisco Antonio de Oliveira, que nomeou uma das ruas do Bairro Tênis Clube – Rua Trovador Luiz Otávio. 

Autor de diversos livros de trovas e poesias, entre eles a famosa Coletânea de Trovas intitulada “Meus Irmãos, Os Trovadores”. 
"Saudade… muita Saudade". Poesia. 1946
"Um coração em ternura". Poesia. s/d
"Trovas". s/d
"Meus irmãos, os Trovadores". Coletânea. 1956
"Cantigas para esquecer". Trovas. 1956
"Meu Sonho Encantador". Poesia. 1959
"Cantigas dos Sonhos Perdidos." Trovas. s/d
"Cantigas de muito longe". Trovas. 1961
"Trovas ao chegar do Outono". Trovas. 1965

O “Castanheira–de–Pêra”, Jornal Português de 11 de agosto de 1958 publicou sobre Meus Irmãos, os Trovadores:

“Esta coletânea, a primeira do gênero, veio preencher uma lacuna que se fazia sentir. Apresenta mais de seiscentos autores brasileiros, duas mil trovas, inúmeras notas bibliográficas e elucidativas e minuciosa introdução com um estudo sobre a trova. É um valioso trabalho que se impõe. A Luiz Otávio, em quem há muito reconhecemos idoneidade literária e bom sentido poético, apresentamos os nossos parabéns e os desejos de que o seu trabalho tenha a divulgação que a todos os títulos merece”.

Idealista, lírico, por excelência, com um profundo senso de organização, Luiz Otávio acumulava ainda outras qualidades indispensáveis ao "verdadeiro Líder", seja lá do que for. Era simples, honesto, e sabia convencer sem forçar. Embora convicto e determinado, sabia humildemente ceder, se preciso fosse. Se persuadido da necessidade de uma renúncia, cedia, sim, porém, não facilmente, mesmo porque antes de propor algo, o fazia convicto de que aquilo era o certo, respondendo de antemão a todos os possíveis apartes - o que de certo modo desarmava, a priori, o opositor. Era bom, afável e acima de tudo, profundamente carismático. Um verdadeiro Príncipe!

O TROVADOR
Era, portanto, o campo fecundo onde a semente da Trova encontrou chão propício para deitar raízes, expandindo sua opulência por todo território nacional. O ritmo da Trova que embalava seus ouvidos desde os tempos de escoteiro, cresceu com ele, ganhando melodia ao som do violão de Glauco Vianna, mais tarde pertencente ao "Bando dos Tangarás", seu colega de faculdade e de noitadas de seresta.

Luiz Otávio sempre gostou de cantar e compor embora não conhecesse música. Aloysio de Oliveira, outro companheiro, também possuidor de um bom timbre vocálico, iria pertencer, no futuro, ao Bando da Lua, que tanto sucesso fez na terra de Tio Sam ao lado de Carmen Miranda. A influência destes dois amigos foi grande na iniciação poética de Luiz Otávio. Glauco tocava, Aloysio cantava e Luiz Otávio não apenas cantava como também compunha letras e músicas de canções, sambas, fox-trotes, valsas, etc. e continuou cantando e compondo até o final dos seus dias. Nascia o "Trovador" - assim carinhosamente chamado, já naquele tempo, antes mesmo do seu ingresso definitivo no Mundo da Trova.

Faleceu em 31 de janeiro de 1977, vítima de amiloidose, em Santos, cidade que adotou e da qual recebeu incontáveis manifestações de carinho e apreço, como a Medalha do Mérito Cultural que a Prefeitura lhe outorgou em homenagem póstuma. Segundo sua vontade, foi sepultado na Catedral, em Santos.

Se as coisas não parecessem impossíveis, não haveria graça em fazê-las. Luiz Otávio bem o demonstrou. O possível é para pessoas comuns; o difícil é para pessoas determinadas, mas o impossível é para pessoas obstinadas. Portanto, o possível, é para quem assenta tijolos, o difícil, é para quem ergue paredes, mas o impossível, é para quem constrói catedrais! As pessoas comuns sonham. As pessoas determinadas planejam, mas as pessoas obstinadas fazem! Elas colocam o planejar e o fazer a serviço do sonhar, e munidos desse tripé, dão forma ao sonho, constroem castelos de cristais onde havia desolação, espelham a lua e penduram esperanças nas estrelas, para, com elas, enfeitarem a noite dos que buscam luz!

Mostrem-me um vitorioso, e eu lhes mostrarei alguém que se recusou a chamar insucesso de fracasso! Mostrem-me alguém que realizou seu sonho, e eu lhes mostrarei alguém que chama os insucesso de “tentativas”. Mostrem-me um vencedor e eu lhes mostrarei Gilson de Castro, o cirurgião dentista que aceitou chorar só, na calada da noite, diante da incompreensão dos medíocres, para poder no dia seguinte, ressurgir como Luiz Otávio, e encarar os desafios que seu sonho exigia, com o olhar brilhante, lustrado pelas lágrimas, depurado pelo sofrimento e revigorado pela obstinação! Foi essa obstinação que ergueu a catedral UBT, o Templo Maior da Trova!

O vitorioso sorri quando outros choram, avança quando outros param, persiste quando outros retornam, cria onde outros copiam, transpira quando outros descansam. E se chora, será de alegria, se arrefece a caminhada será para admirar a paisagem que transformou, se retorna, será para auxiliar os que não lhe acompanham o passo, se copia, será para ratificar, com o devido crédito, o que de bom se fez antes dele; e, se descansa, será para preparar a retomada do caminho em direção ao sonho ainda não realizado. Com a sua morte, a Trova ficou de luto, mas continuou florescendo nas Rosas Vermelhas dos inúmeros canteiros que ele espalhou por este Brasil à fora, como símbolo do amor e da paz. Continua vivo nesta Rosa, que nem sempre enfeita nossas lapelas, porque a trazemos dentro, definitivamente dentro do coração.

Fontes:
Carolina Ramos (Luiz Otávio, Príncipe dos Trovadores)
J. B. Xavier (Luiz Otávio, Construtor de Sonhos)
Thalma Tavares (Palestra sobre Luiz Otávio) in GOLDMAN, Izo. Curso de Trovas.
Iraí Verdan e Geraldo Mattos. Palestra no Programa “Primavera de Poesias”, realizada em 25 de outubro de 2008, no auditório da Escola Profª Alcília Brandão Teixeira, em Piabetá-Magé RJ
UBT-SP. http://www.recantodasletras.com.br/biografias/3061483
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Otávio_(poeta)
http://www.movimentodasartes.com.br 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comemoração do Centenário de Carolina Ramos em 19 de março

Prestes a completar 100 anos, no dia 19 de março, a poetisa santista Carolina Ramos foi eternizada com o plantio de uma árvore no jardim da ...