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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Cadeira n. 4 – Patrono: Ariano Suassuna (1927 – 2014)


Ariano Vilar Suassuna nasceu em Paraíba do Norte/PB, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, filho de Rita de Cássia Dantas Villar e João Suassuna. Ariano foi casado com Zélia de Andrade Lima, com quem teve seis filhos.

Seu pai era então o presidente (seria hoje chamado de governador) do estado da Paraíba. No ano seguinte, o pai deixa o governo da Paraíba, e a família passou a morar no sertão, em Sousa. Durante o movimento armado que culminou com a Revolução de 1930, quando Ariano tinha três anos, seu pai João Suassuna foi assassinado por motivos políticos na cidade do Rio de Janeiro, e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de "improvisação" seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.

A partir de 1942 passou a viver em Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no Colégio Oswaldo Cruz. No ano seguinte ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1950. Entre 1957 e 1959 cursou o bacharelado em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco, colando grau em 1960. Em 1976, tornou-se livre-docente em História da Cultura Brasileira pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco.

Ariano Suassuna estreou seus dons literários precocemente em 1945, quando o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque no Jornal do Commercio do Recife.

Na Faculdade de Direito do Recife, conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, em seguida Os Homens de Barro. Seguiram-se Auto de João da Cruz, de 1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena.

No mesmo ano, volta a Taperoá, para curar-se de uma doença pulmonar e lá escreve e monta a peça Torturas de um Coração. Retorna a Recife onde, entre 1952 e 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro.

Em 1953, escreve O Castigo da Soberba, depois vieram O Rico Avarento (1954) e o aclamado Auto da Compadecida, de 1955, que o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro".

Em 1956, afasta-se da advocacia e torna-se professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Em 1957, vieram O Santo e a Porca e O Casamento Suspeitoso. Depois vieram O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna (1958) e A Pena e a Lei (1959), premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro. Ainda em 1959, funda o Teatro Popular do Nordeste, também com Hermilo Borba Filho, onde monta as peças Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962).

No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. De formação calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, por influência de sua esposa Zélia, com quem se casou em 19 de janeiro de 1957. Estas três vertentes influenciariam sua obra de forma significativa.

Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967–1973); diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969–1974). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, no Recife, o "Movimento Armorial", interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto "Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial" e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Foi Secretário de Educação e Cultura do Recife, de 1975 a 1978 e Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes, de 1994 a 1998.

Entre 1956 e 1976, dedicou-se à prosa de ficção, publicando História de Amor de Fernando e Isaura" (1956), O Romance d'A Pedra do Reino", o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), e História d'O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão (1976). No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, e O Santo e a Porca.

Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.

Em dezembro de 2017, foi publicada sua obra inédita e póstuma A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores. A organização do trabalho foi feita por sua família, reunindo os escritos que Suassuna levou seus últimos trinta anos de vida para escrever. A obra é dividida em dois volumes, O Jumento Sedutor e O Palhaço Tetrafônico e é considerada pela crítica seu "testamento literário", tendo sido finalizada pouco antes de sua morte. O próprio Suassuna considerava a obra como "o livro da sua vida".

Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2000); Universidade Federal da Paraíba tendo recebido a honraria em 2002; Universidade Federal Rural de Pernambuco (2005), Universidade de Passo Fundo (2005) e Universidade Federal do Ceará (2006) tendo recebido a honraria em 2010, às vésperas de completar 83 anos.

Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano. Em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida foi o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo. Em 2015, já após seu falecimento, foi homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, com o enredo "O Cavaleiro Armorial mandacariza o carnaval".

Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.

Em 2007, em homenagem aos oitenta anos do autor, a Rede Globo produziu a minissérie A Pedra do Reino, com direção e roteiro de Luiz Fernando Carvalho a partir de O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta.

De 1990 até o ano de sua morte, ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, a cadeira 35 na Academia Paraibana de Letras em 2000.

Ariano morreu no dia 23 de julho de 2014 no Recife, vítima de uma parada cardíaca. Havia dado entrada no hospital na noite do dia 21, depois de um acidente vascular cerebral (AVC), passando por procedimento cirúrgico com colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana. Ele ficou em coma e respirando por ajuda de aparelhos. O corpo de Ariano foi sepultado no Cemitério Morada da Paz em Paulista, Região Metropolitana do Recife, em 24 de julho de 2014.

A sua produção literária, que engloba poesia, teatro e romances, bem como sua atividade na área da cultura em geral, estão fundamentalmente ligadas aos cenários nordestinos e à cultura popular da região, e foi um grande divulgador dessa cultura para o restante do Brasil, chamando a atenção para a literatura de cordel, os trovadores e repentistas, as artes visuais, o artesanato e a música. O Movimento Armorial que ele idealizou é uma síntese das suas aspirações sobre a fusão da cultura popular com a cultura erudita. Segundo a pesquisadora Solange Pinheiro de Carvalho, "sua escrita é repleta de elementos da cultura popular nordestina, [...] ao mesmo tempo que é complexa e elaborada, traz toques de oralidade e espontaneidade ao captar a linguagem e as expressões populares do Nordeste". Para o pesquisador Emer Merari Rodrigues, "o repertório de Ariano Suassuna é tomado de recursos poéticos contidos no folclore oral nordestino, pois foi basicamente por meio do folheto de cordel que deixou, também em sua poesia-denúncia, uma sensibilização coletiva sobre o sertanejo, um gosto pela sátira política e pelas desavenças interioranas. Esses traços estilísticos particularizantes, essas características específicas de folheto, o sonho armorial (de transformar arte popular em erudita) e principalmente a fusão complexa de autor, escritor, personagens reais e fictícios é o que o torna culturalmente atemporal".

Foi um vigoroso defensor da cultura e das tradições regionais, mas não era contrário às mudanças e às influências externas, mesmo as estrangeiras, mas não as aprovava quando vinham através de imposição ou para menosprezar e inferiorizar a cultura local. Ao mesmo tempo, foi um crítico do contexto social de desigualdade e opressão do sertanejo, da violência, da pobreza e da fome endêmicas, sem contudo recair na panfletagem, muitas vezes exercendo a crítica através do humor e da sátira. Entendia o artista como o intérprete da sua comunidade, e por isso sua arte devia estar sintonizada intimamente com seus anseios e sua realidade, e através da arte poderia servir também como um educador.

Seus personagens geralmente são estereótipos — o fazendeiro (coronel) tirânico e avarento, o cangaceiro violento e fora da lei que transita entre o heroísmo e a vilania, o policial corrupto, o sertanejo pobre mas astuto, o padre serviçal dos poderosos, a falsa beata — pois assim podia deixar mais clara a estrutura da sociedade e colocar em diálogo os valores complexos, conflitantes e paradoxais que deram origem e alimentam a realidade presente. Seus textos frequentemente comentam e transformam narrativas alheias antigas e modernas, cultas e populares, e o recurso à metalinguagem, à paráfrase, à citação propositalmente deturpada é uma constante, criando escritos com múltiplos níveis de leitura possíveis, que sintetizam, discutem e dialogam com uma tradição anterior para criar uma obra nova, e onde elementos autobiográficos mais ou menos velados são recorrentes.

Entre suas obras mais conhecidas estão Uma Mulher Vestida de Sol (teatro, 1947), Auto da Compadecida (teatro, 1955), O Casamento Suspeitoso (teatro, 1957), A Pena e a Lei (teatro, 1959), premiada no Festival Latino-Americano de Teatro em 1969, e A Pedra do Reino (romance, 1971).

OBRAS SELECIONADAS

– Uma mulher vestida de Sol (1947)
– Cantam as harpas de Sião ou O desertor de Princesa (1948)
– Os homens de barro (1949)
– Auto de João da Cruz (1950)
– Torturas de um coração (1950)
– O arco desolado (1952)
– O castigo da soberba (1953)
– O Rico Avarento (1954)
– Auto da Compadecida (1955)
– O casamento suspeitoso (1957)
– O santo e a porca (1957)
– O homem da vaca e o poder da fortuna (1958)
– A pena e a lei (1959)
– Farsa da boa preguiça (1960)
– A Caseira e a Catarina (1962)
– As conchambranças de Quaderna (1987)
– Fernando e Isaura (1956, inédito até 1994)


ROMANCE

– A História de amor de Fernando e Isaura (1956)
– Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971)
– História d'O Rei Degolado nas caatingas do sertão: ao sol da Onça Caetana (1977)
– A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores (2017) – publicação póstuma


POESIA

– O pasto incendiado (1945-1970)
– Ode (1955)
– Sonetos com mote alheio (1980)
– Sonetos de Albano Cervonegro (1985)
– Poemas (antologia) (1999)
– Os homens de barro (1949)


OBRAS ACADÊMICAS

– O Movimento Armorial (1974)
– Iniciação à Estética (1975)
– A Onça Castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira (1976) – tese de livre-docência


Fonte:
wikipedia

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